segunda-feira, 6 de junho de 2016
Flamengo: Tudo que é sólido desmancha no ar
Se o zagueiro-filósofo Wallace, que nos tempos vagos gostava de ler Marx e Engels, segundo alegam alguns, continuasse no Flamengo, certamente, adverteria aos seus colegas de clube, torcedores e dirigentes de que "tudo que é sólido desmancha no ar", conforme foi dito pela dupla de filósofos no Manifesto Comunista.
Em um programa esportivo de televisão, em uma pergunta solta no ar e que não foi muito desdobrada, um dos participantes perguntou ao presidente Bandeira de Melo se não se preocupava com o fato de que com o passar dos anos e não muitos anos assim, o Flamengo pudesse deixar de ser a maior torcida do Brasil e a mais querida, sendo desbancada, talvez, pelo Corinthians. O presidente, esquivou-se dizendo que isso estava longe de acontecer.
Ao contrário do que pensa o presidente Bandeira, não só o Flamengo, mas muitos outros clubes correm o risco de verem seus torcedores minguarem ou mesmo com o passar dos tempos os clubes brasileiros, por tradição e não por paixão, passarem a ser uma espécie de América, como segundo clube no coração de todos. Isso já ocorre com muitas crianças que correm atrás da camisa do Barcelona, de Messi e Neymar; do Real Madrid, de Cristiano Ronaldo. "Nossos ídolos já não são os mesmos". Até um clube chinês de repente pode despontar na preferência dos torcedores. Sem contar o elevado número de pessoas que não dão a mínima para futebol e sequer torcem pela seleção brasileira.
Clubes de massa como Flamengo e Corinthians deveriam ter um Plano Nacional de captação de torcedores, por meio da base que já possuem fora do Rio e São Paulo. O mesmo vale para outras agremiações, como o Vasco, Palmeiras, Grêmio, Internacional etc.
A Copa do Brasil é um exemplo disso. Quando a equipe modesta do Flamengo, como a atual, desembarca em alguma capita do Norte ou Nordeste do Brasil e viaja de ônibus para alguma cidadezinha distante, é a chamada festa do interior. O Flamengo vira grande atração, juntando adultos e crianças, sendo essas os futuros torcedores. O mesmo se dá em jogos do próprio Brasileirão.
Acontece que, como ocorreu com Minas Gerais, a partir da construção do Mineirão, as equipes regionais acabam crescendo em potencial. Em outros estados a tendência também é cada vez mais do fortalecimento das equipes locais. Com isso, clubes de grandes Centros como São Paulo e Rio acabam perdendo a influência que tinham no passado.
A estratégia, não percebida pelos dirigentes do Flamengo e de outros grandes clubes, seria a de criar mecanismos para que os mesmos fossem potências nacionais. Flamengo e Corinthians são os mais aptos ao desencadeamento deste processo.
Mas, quando se cai no mi mi mi de que a equipe fica desgastada pelas constantes viagens e jogos, caminha-se em sentido contrário.
Santos de Pelé e Botafogo de Garrincha corriam mundo em intermináveis excursões, acumulando vitórias e levantando taças e títulos.
Quando se pensa pequeno, a saída é mesmo a construção de um estádio regional e aos poucos ir sumindo do mapa.
No próprio Rio de Janeiro, há o exemplo clássico do São Cristóvão, que conquistou o Campeonato Carioca da Primeira Divisão em 1926, obtendo quatorze vitórias, dois empates e apenas duas derrotas em dezoito jogos, goleando adversários expressivos, como Flamengo (5 a 0 e 5 a 1), Fluminense (4 a 2) e Botafogo (6 a 3).
Só que o São Cristóvão escolheu ser pequeno e no seu modesto campinho, na entrada da Linha Vermelha, exibe uma também modesta placa de que "Aqui nasceu o Fenômeno". Só que Ronaldo passou depois para o Flamengo que o despachou para o Cruzeiro, que o vendeu para o exterior. E dessa forma, o futebol brasileiro também vai sumindo do mapa, desmanchando no ar.
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