domingo, 5 de junho de 2016
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Mauricio Figueiredo
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Norman Mailer e o balé de Muhammad Ali
No século passado, como era moda, li quase tudo de Norman Mailer, pelo fato de ser uma das figuras de destaque do Novo Jornalismo, uma forma de sem abrir mão dos fatos reais transformar a reportagem em quase romance, tornando o texto mais palatável para o leitor. E ao lado de Gay Talese (A mulher do próximo, Honra teu pai, etc), Mailer foi autor dos textos mais marcantes como "Carta ao Presidente", endereçada a Kennedy; Os Degraus do Pentágono, na qual relata a luta contra a guerra do Vietnã, na qual ele figura também como personagem, quando ao lado dos hippies resolve ultrapassar a corda de isolamento, sendo levado preso. Ele conta que os hippies faziam o tradicional som do OM com o objetivo de fazer levitar o prédio do Pentágono, deixando tensos os soldados. Como nada acontecia Mailer resolveu então chegar mais perto.
Mailer era um apaixonado pelo box. Não sei se foi no clássico "Cristãos e Canibais", que relata indignado um nocaute relâmpago de um peso pesado, não sei se foi uma luta de Sony Liston ou George Foreman, quando o pugilista que ele tinha apostados suas fichas é colocado na lona em menos de um minuto. O escritor e jornalista invade o rink querendo esmurrar todo mundo. É claro que é preso antes de ser nocauteado.
Seu texto clássico diz respeito a uma luta travada em Kinshasa, capital do Zaire, em 30 de outubro de 1974, entre Muhammad Ali, em desafio ao então campeão mundial George Foreman. Ali, antes de se converter ao islamismo tinha o nome de Cassius Clay, mas perdera o cinturão de campeão ao ser preso por se negar em ir lutar no Vietnam.
Chamada de A Luta do Século, com o estádio lotado por um público de 100 mil espectadores, com base no relato de Norman Mailer, o espetáculo transmitido para todo o mundo pela televisão, virou filme e até peça de teatro.
O campeão Foreman, invicto há 40 lutas, dominou todos os rounds, com Cassius Clay colocando em prática seu tradicional bailado, colocando o rosto como alvo, mas se esquivando dos socos. No oitavo round, Muhammad Ali muda de tática e desfere violenta sequência de socos de direita e esquerda no rosto de Foreman, e, nos dois últimos dois segundos do fim do round, acerta violento gancho de direita no queixo do então campeão que inapelavelmente desmorona como um gigante na lona.
Norman Mailer foi fundador da revista Village Voice, em 1955, sendo editor do Dissent, de 52 a 1963. Vencedor do Prêmio Pulitzer em 1969 e 1980, o escritor e jornalista nasceu em 31 de janeiro de 1923 e morreu em 10 de novembro de 2007. Tem também um livro sobre Marilyn Monroe.
Para quem não conhecer bem o autor, o seu romance clássico é o "Nus e os Mortos", com base na guerra. Mas, quem preferir um texto mais curto há a novela "O sonho americano", em que retrata um crime. Muitos viram na obra uma quase autobiografia, pois o escritor também esfaqueou a mulher durante uma briga. Depois de solto declarou que "a violência é tão popular na América como a torta de maçã". Outra de suas sacadas é de que "o colchão de mola ocasionou problemas que o colchão de crina, nunca ousou criar".
Um de seus últimos livros - talvez o último, "O Grande Vazio" - é um simpático bate papo com o filho John Buffalo, no estilo ping pong, no qual o escritor aborda os mais diferentes assuntos.
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