quarta-feira, 29 de julho de 2015

Paulada no Ricardo Gomes



Em 2011 cruzei com o técnico Ricardo Gomes, que agora depois de quatro anos de afastamento do futebol, vitimado por um AVC, está de volta para comandar o Botafogo. Esse encontro foi em uma livraria do Aeroporto Internacional do Galeão, o Tom Jobim. O time do Vasco já tinha viajado, se não me engano para Brasília, e Ricardo por algum motivo viajaria naquela tarde sozinho.
Creio que tenha adquirido um livro e duas revistas semanais do estilo Veja, Época ou Isto É não me recordo quais foram.
Entretido em suas escolhas preferi não me aproximar e perguntar alguma coisa sobre o seu Vasco. Não havia muito também a ser perguntado. Acho que era uma época em que não havia tantos treinos secretos como agora, a escalação era divulgada com uma certa antecedência, podendo perdurar uma ou outra dúvida em virtude de alguma contusão.
Quando se retirou, após ter pago pelas compras, uma das caixas comentou com a outra, frisando que se tratava do nome do técnico do Vasco. A outra respondeu que ele era muito alto e também bonitão. Perguntou o nome, mas a amiga não sabia. Então, entrei na conversa e disse que se tratava do Ricardo Gomes. Só não disse que havia sido zagueiro do Fluminense e da seleção brasileira e preferido de Parreira para ser titular da seleção do tetra de 1994, mas que acabou sendo cortado devido a uma contusão.
Jamais imaginaria que tempos depois no dia 28 de agosto daquele 2011, durante uma partida entre o Vasco e o Flamengo, no Engenhão, Ricardo seria acometido por um AVC.
Foram anos de luta em uma verdadeira batalha para eliminar ou minimizar as sequelas da doença.
Só um guerreiro como Ricardo Gomes, acostumando a vitórias mas também a derrotas próprias do mundo esportivo poderia enfrentar com tanta abnegação o tratamento rigoroso a que foi imposto.
O rapaz que nos anos 80 começou sua carreira como zagueiro do Fluminense e logo depois conquistaria o tricampeonato carioca pelo tricolor de 83 a 85, além de ter atuado na zaga campeã brasileira de 1984, em 1989 despontava como titular absoluto da seleção brasileira, na qual foi campeão na Copa América e das eliminatórias, atuando na Copa de 1990 na Itália, mas já como jogador do Benfica.
Cracaço na posição, em 1991 foi contratado pelo Paris Saint-Germain, tornando-se ídolo da torcida, por quatro temporadas.
Nome indiscutível como titular da zaga brasileira para a Copa de 1994, Ricardo Gomes, no último amistoso, contra o El Salvador, aos 21 minutos do primeiro tempo sofre uma lesão muscular que o afasta definitivamente do mundial.
Por fim, acabou encerrando a carreira como jogador em 1996, pelo Benfica, com apenas 31 anos.

RICARDO TÉCNICO - Sempre envolvido com o futebol, Ricardo Gomes inicia sua carreira como técnico, comandando o Paris Saint-Germain, sendo campeão da Copa da França e da Copa Liga da França. No Brasil, em 1999, sagra-se campeão da Copa do Nordeste pelo Vitória. De volta à França, leva o Bordeaux aos vice-campeonatos de 2005-2006, depois comandando o Monaco por duas temporadas.
Foi ainda técnico do Guarani, Flamengo, Fluminense, Juventude, Coritiba e da Seleção Brasileira Olímpica, sendo então seu último trabalho no país pelo Flamengo em 2004.
Seu retorno ao futebol brasileiro ocorre em substituição a Muricy Ramalho, no São Paulo, no qual com algum sucesso fica até 2006, transferindo-se para o Vasco da Gama.

Se como jogador, o afastamento da seleção Tetra de 1994 pode ser considerada a grande paulada levada por Ricardo Gomes, como técnico o AVC sofrido em 2011 representa outra grande paulada.

Agora de volta às atividades, Gomes, em sua primeira entrevista, diz que as pequenas sequelas que possui não atrapalham em nada o seu trabalho, tanto que recebeu totais garantias dos médicos para retornar ao futebol.

Diante disso, afirma que espera ser tratado como qualquer outro técnico, recebendo as críticas que tiver que receber. Ou seja, Ricardo Gomes afirma que está pronto para as pauladas.

Mas, no seu caso específico, como exemplo de vida, realmente só cabem os aplausos gerais e admiração de todos. (MAURICIO FIGUEIREDO)
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