Nelson Rodrigues é, sem dúvida, o grande nome de escritor que tem seu nome também consagrado como cronista esportivo e apaixonado pelo Fluminense. Contudo, antes dele, José Lins do Rego, consagrado autor de Fogo Morto, Riacho Doce e Menino de Engenho, entre outros, foi grande destaque escrevendo sobre esportes, especialmente, a respeito do Flamengo do qual era fanático torcedor.
Zé Lins, como era chamado pelos íntimos, teve seu auge como cronista esportivo ao aceitar o convite de Mário Filho para ser colunista do Jornal dos Sports. Sua estreia foi tão marcante que mereceu chamada de primeira página do jornal, enfatizando que o importante escritor seria um colaborador diário, tratando-se de "nosso maior cronista". Com a coluna "Esporte e Vida", ele retornou ao JS em 7 de março de 1945,
O cronista, as borboletas e os urubus
Fui hoje pela manhã, em caminhada a pé, até o estádio do Flamengo, com o intuito de assistir ao treino do rubro-negro. A manhã era toda de uma festa de luz sobre as águas, os morros. Alguns barcos ainda se encontravam na lagoa, e os pássaros do arvoredo da ilha do Piraquê cantavam com alegria de primavera,
Tudo estava muito bonito, e o cronista descuidado e lírico começou a caminhada para gozar um pedaço desta maravilhosa cidade do Rio de Janeiro. E com esse propósito, de camisa aberta ao peito, procurou descobrir as borboletas azuis do seu caro Casimiro de Abreu.
Mas, em vez das lindíssimas borboletas, o cronista foi encontrando soturnos urubus, das imundices, dos animais mortos, de toda a podridão que a prefeitura vai deixando ali, por detrás dos muros do Jóquei Clube. Fedia tanto o caminho que o pobre cronista, homem de noventa quilos, teve de correr para fugir o mais depressa possível daquele cenário nauseabundo.
A manhã era linda, e o sol, apesar de tudo, brilhava sobre o lixo, indiferente a todo aquele relaxamento dos homens.
José Lins do Rego (Jornal dos Sports - Esporte e Vida - 5 de maio de 1945)
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