quinta-feira, 3 de julho de 2014

Fred não aceita ser o vilão da história



Tido como intocável pelo técnico Felipão, o atacante Fred achava que seu prestígio estava intacto na seleção brasileira. Antes de ser convocado se curava de uma contusão e o próprio treinador atrasou a lista dos 23 esperando pelo seu atacante preferido. Embora aborrecido com a preferência de Diego Costa, do Atlético Madrid, pela seleção espanhola, Felipão via em Fred um atacante capaz de ser a solução de gols para a seleção e isso foi provado na Copa das Confederações.
Acontece, que "um dia veio a fada má" e a seleção brasileira na Copa do Mundo não conseguiu deslanchar até agora. A crise de chororô histérica durante a cobrança de pênaltis contra o Chile mostra, visivelmente, o desequilíbrio emocional de grande parte do elenco, a começar pelo próprio capitão Thiago Silva, posto que mais que uma peça de decoração significa uma escolha simbólica do indivíduo capacitado para liderar e mesmo levar a todo elenco a motivação necessária para o enfrentamento das dificuldades.
O capitão do time não é o craque da equipe. Muitas vezes, ele tem até um futebol mas limitado que os outros como ocorreu com Belini, Cafú e mesmo Dunga, em 94. Mas, ele é aquele quem coloca a casa em ordem tanto dentro como fora de campo. Thiago Silva, apesar de ser um dos maiores zagueiros da atualidade, demonstrou sua fragilidade para o cargo.
Mas voltando à questão Fred. O artilheiro de repente deixou de marcar os esperados gols. Mas, sente, e sofre calado pelo fato de o meio-campo da seleção ser um dos mais fracos e incompetentes dos últimos tempos. Não há quem saiba articular as jogadas ou pelo menos, como a bela adormecida este atleta está escondido em campo ou no elenco. Paulinho como um comprimido de dor de cabeça acabou sumindo misteriosamente como em seu limitado clube inglês, o Tottenhan. Oscar na prática vem demonstrando que é muito menos do que se esperava, limitando-se até agora a um gol de bico.
Fred vê no comando do ataque, o dono da bola Neymar fazendo suas estrepolias, dando lençol no adversário no meio de campo e o pior de tudo, ao contrário de sua função de garçom no Barcelona, recusa-se a lhe passar a bola o mesmo ocorrendo com os laterais cujo futebol também sumiu.
O experiente Parreira, na tentativa de salvar Fred, começou a instruí-lo no sentido de ser uma espécie de Tostão, não ficando tão preso entre os zagueiros. Contudo, é algo como transformar o patinho feio em um belo cisne. Atuar entre os zagueiros, trombando com eles e até fazendo gols deitado é a grande especialidade de Fred e foi isso que o consagrou como artilheiro.
Quando se convoca um atacante como Fred e seu reserva clonado, espera-se que a equipe possua pelo menos algumas jogadas preparadas para que o seu futebol apareça. Mas, a seleção brasileira da Copa do Mundo resume-se ao samba de uma nota só, na qual a solução está em entregar a bola para Neymar acreditando que ele possa resolver sempre. Com isso, Fred some em campo.
Ao ser substituído no treinamento pelo volante Henrique, a casa acabou caindo para Fred. Ele viu que a conversa de seu treinador não passou de história da carocinha e não aceita ser colocado como o vilão de uma história que se não for reescrita com urgência poderá acabar em tragédia.
Talvez o nosso conto de fada dê pro gastos e aos trancos e barrancos nosso capitão chorão, em meios às lágrimas, erga o esperado caneco.
Mas, pode ser que nossa fragilidade tática encontre adversários mais fortes ou então que Fred seja mesmo o vilão da história e a bela adormecida comece realmente a despertar.

MAURICIO FIGUEIREDO




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